o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

UM BEATNIK NA ERA DE AQUÁRIO


joguei 
golfe com Jack Kerouac
            pensei que seria interessante trazer à tona
alguns lances via internet
            ele ainda não liderava a liga como batedor
mas foi um jogo bastante duro
            um grande taco
procurava captar detalhes do rival 
            raro instinto técnico
como se tomasse notas pro próximo romance
eu até se poderia dividir 
            a transmissão em capítulos
o primeiro seria sobre
            sua linhagem vagabunda & andarilha
depois poderia abordar 
            o excesso de bebida afetando o cérebro
chega o momento ele tenta avalia a estratégia
surpreso à mudança de estilo
            pergunta-me se de fato achavam que tem obsessão patológica pela escrita
            respondo que o tempo todo ele está certo 
os críticos errados
            fui adivinhando o caminho
tinha meu próprio jogo a forjar 
            ele diz ter que se apressar
vai se apresentar ao exame de voo em dois dias
            e teme que precise adiá-lo 
por causa do início de uma hérnia
            desconfio se tratar de um blefe 
depois disseram que sempre fazia esse 
            jogo 
desde que a ex-mulher escreveu
           que ela era Jeck Kerouac
que Kerouac não existia
           sequer escrevia os próprios livros
o que ele tinha a oferecer carecia tanto de atrativos
           que ela costumava tomar todas as decisões
ela digamos assim fez-se por si própria sem que ele
           exercesse alguma influência
que se dependesse dele a classe literária continuaria aí agitando
           de maneira costumeira sempre a mesma merda etc.
último recurso
           ele prepara-se
tenta arremessar na diagonal 
           pés em linha reta
ombros livres de fadiga
           como se para uma nova peregrinação
ir despertar o tempo com uma dança sensual na rua
           cambaleando 
atrás de pessoas que realmente interessam
           Corsos Cassadys Ferlinghettis
(não vive sem eles)
           mangas arregaçadas até o cotovelo 
finalmente arremessa taca
           o umbigo estala trinca explode
agora se pode ir a todo lugar
           agora se pode ir em toda direção
           breve virá o dilúvio



ney ferraz paiva

Um comentário:

  1. Gostei dessa postura dialógica entre ambos!

    Abração do Pedra

    www.pedradosertao.blogspot.com.br

    ResponderExcluir