o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012




Em conversa com Thomas Bernhard


Hofmann: Vamos jogar um pequeno jogo. O senhor não é agora
o Thomas Bernhard, mas um vizinho, um agricultor.

Bernhard: E eu tenho que dizer então qualquer coisa sobre o

Thomas Bernhard?

Hofmann: Sim, sim. Há quanto tempo mora já o Thomas

Bernhard em Ohlsdorf?

Bernhard: A mim não me parece que haja tanto tempo, mas ele
afirma que há 25 anos. Mas ele continua a ser novo.

Hofmann: Já falou alguma vez com ele? Têm contato?

Bernhard: Uma vez por ano. Ele muito raramente sai de casa, e
então vai à igreja.

Hofmann: Aonde é que ele vai?

Bernhard: À igreja.

Hofmann: Quando?

Bernhard: De noite, quando mais ninguém vai. Publicamente
não se atreve. Ele afirma que não tem nenhuma relação com a
igreja e assim isso é provavelmente desagradável para ele.

Hofmann: E como é que ele é, quando o encontra?

Bernhard: Tímido, muito tímido. Misantropo. Preguiçoso e
misantropo.

Hofmann: Com certeza vêm aqui jornalistas. Vêm então ter

consigo?

Bernhard: Eles vêm então ter comigo e não com ele. E às vezes
conto alguma coisa sobre ele. Como ele está e como vai.

Hofmann: O senhor é agricultor de profissão.

Bernhard: Sou, fui sempre agricultor. Os meus avós eram
agricultores, e todos eram agricultores. Os meus filhos também

são...

Hofmann: O que é que pensa de alguém que...

Bernhard: Que não é agricultor?

Hofmann: Que escreve...

Bernhard: isso é uma idiotice, porque não tem utilidade para
ninguém e não serve de nada. Nada.

Hofmann: Leu alguma coisa dele?

Bernhard: Sim, uma vez. Mas aborrece-me.

Hofmann: O quê?

Bernhard: Já não sei. Ele só diz disparates. É só destrutivo e
perverso e tudo isso.



Em Conversa com Thomas Bernhard, de Kurt Hofmann, traduzido por José A. Palma Caetano, Assírio & Alvim, Agosto, 2006.

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