o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A alta costura de Giselle Ribeiro vai parar no Hospício


Prêt-à-porter


Primeiro leia este livro
sem compromisso maior.
E se algum poema
nele contido
lhe vestir bem,
sem precisar de ajustes,
ele será todo seu.

Para ir à igreja, 
um encontro marcado,
um passeio no bosque,
uma reunião de negócios,
piscina, praia ou cinema.
Para fazer cooper, yoga
ou jogar sinuca.

Afinal, para que mais serve o poema?



Tarefas da vida cotidiana



Lavamos
todos os dias
a palavra amor
até desbotar.
Passamos a ferro
todos os dias
a palavra desejo
até evaporar.
Depois,
lavamos as mãos.

E quando a iluminura 
do amor se apaga,
gradativamente,
dizemos aos sonhos:
a convivência mata.



Desintoxicação



ela amava as coisas.
As máquinas todas
eram as suas pulsações:

máquina de calcular
máquina de escrever
máquina de fazer filmes e fotografias
máquina de lavar
máquina de secar...

Mas quando viu
que o coração e os olhos
já estavam secos
Ela quis se descoisar.


Giselle Ribeiro, Pequeno livro de poemas para vestir bem, 2011.
imagem: ney ferraz paiva

Um comentário:

  1. Giselle você sempre surpreendendo o leito sem comentário very beautiful saudades beijos

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