o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

sábado, 30 de julho de 2011




AMY MORTA POR WILLIAM BURROUGHS?
Amy Winehouse a vítima de um jogo entre bêbados que acabou mal

O esforço de explicar um vício, conferir-lhe um lugar na economia do ego, talvez seja sempre uma empresa voltada ao fracasso.
J. M. Coetzee sobre William Faulkner


Amy Winehouse poderia ter sido personagem de Beckett, diga-se: uma personagem bem mais decidida, até mesmo para a morte. "Logo ela estará bem morta, apesar de tudo". Mil sinaizinhos indicam. O que Malone (Malone morre, Beckett) tenta prorrogar de uma data a outra, Amy sabe de antemão que muitas festas vão ter que passar sem ela. E não exatamente as festas de são João Batista, do 14 de julho ou da liberdade. Sequer as da transfiguração e assunção. Amy fez todo esforço para ausentar-se. Amy não tava nem aí pra coisas como sucesso e fama. Fez gato-sapato, desdenhou do fato de a terem reduzido a uma celebridade, quando queria ter feito muito, muito mais com a música. Porém tudo foi truncado, deixado distante da personagem que poderia ser – não a que foi assomada pelo pitoresco que a mídia se põe a exibir. É foda, mas é sempre isso. Poderia morrer hoje, ontem ou amanhã. Nenhum espanto mais seria cabível. O serviço sujo está feito. E Amy, por seu turno, se esforçou, precipitou as coisas. Tudo a ver com Basquiat, pensei de imediato quando soube. Ter que decidir por si mesmo. Não ficar neutro e inerte num ambiente de irradiações falsas, negativas, de incompleta atrofia do sensível. Não se pode dizer que ainda role segredos sobre os primeiros e os últimos passos no universo pop. Tudo acontece em um terreno comum, onde a escória circula livremente: traficantes, prostitutas, bajuladores, proxenetas, falastrões, jornalistas de aluguel e similares. De fora e por fora, o grande público espectador assiste, consome e comunga. Pode durar anos e render muito. Como Willian Faulkner, a vida inteira um alcoólatra agudo e crônico. Pode durar pouco e render muito mais ainda. Num ímpeto de impaciência antecipar o fim. Nos dois casos, a saída como de uma regra alternativa: exagerar, extravasar, passar da conta em tudo. Ser o primeiro a se livrar de entusiasmo e motivação. Todos olhando o astro se desintegrar. decidir por si mesmo... a menos que um outro William, o Burroughs resolva a parada a seu modo: entre na história e aperte o gatilho.


Ney Ferraz Paiva
Imagem: "The Only Good Rock Star is a Dead Rock Star"
Amy Winehouse "shot" by William Burroughs instalation, by Marco Perego. Half Gallery, New York City.

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