o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

quinta-feira, 3 de março de 2011



UMA ARTE

A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.


Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.


Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.


Perdi o relógio de mamãe. Ah! e nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.


Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.


— Mesmo perder você (a voz, o ar etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.



Elizabeth Bishop, The complete poems 1927-1979.
New York, Farar, Straus and Giroux, 1991.
Tradução: Paulo Henriques Britto
Iamgem: sequência final de Betty Blue

Um comentário:

  1. Eu sou craque nisso, mestre absoluto nessa arte.

    Olha só, gostei do teu espaço...

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