o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Da educação que faz mal ao corpo

O Senhor Secretário de Educação de Palmas, Danilo de Melo Souza, seria reprovado se suas recentes declarações na TV local acerca das visíveis inadequações do projeto de escola integral se se tratasse de uma prova escolar. Mais do que uma questão dos poderes de palavra, uma questão de Poder: quem é que pode contar, falar, concluir o debate, se este houver, ou a entrevista. Esta pelo menos se deu. Perguntado sobre as razões da falta de estrutura e de instalações adequadas em algumas unidades de ensino de tempo integral, que chega a inviabilizar o banho e o uso dos banheiros por grande parte dos alunos, o Senhor secretário respondeu didaticamente o que pode ser tomado como um tesouro de ensinamento que deve ser consignado para o futuro: “banho não é uma prioridade pedagógica da escola” e arrematou: a maioria desses alunos sequer “têm o hábito de tomar banho”. A visada do Senhor secretário faz lembrar o entendimento que o europeu tinha em relação aos índios. Que excluía de imediato avaliar qual o entendimento que o índio tinha sobre si mesmo. O europeu saberia? Quereria saber? E Senhor Danilo, tão preocupado com o processo de formação do sujeito racional, saberia dizer qual é o entendimento que as crianças têm sobre o próprio corpo e os hábitos de higiene? Sua resposta não tentaria esconder, em horário nobre, a negligência com os aspectos básicos do bem estar, da saúde e da cidadania? Coisas ditas em sua ausência que podem desdobrar numa série de questões tanto mais insidiosas que a resposta do Senhor secretário. Vale lembrar, já que a educação que este Senhor propõe se reduz a ter ou não hábito, que os alunos também “não têm hábito” de leitura, não têm casa digna para o “dever de casa”, acesso às galerias, cinemas, bibliotecas, livrarias. Deixados de lado pelo poder excludente. Domesticados e apaziguados pelas estatísticas que a tudo mascaram e fantasiam, como num desfile de inconsciências e delírios, já que o carnaval está sempre nas ruas. À educação seus ornamentos e adereços pedagógicos. Educação “integral” e tantas e quantas mais nomenclaturas, franjas, adjetivações? Tais e tais projetos pedagógicos plenos de bons sentimentos, que reconstituem o ambiente da escola num misto de melancolia e de utopia. De empobrecimento que a cada ano se repete e se intensifica. Mas que a ninguém reprova. Nem ao Senhor secretário com suas respostas tanto enfáticas quanto desastrosas. À sociedade resta pagar a conta de mais um samba do criolo doido da administração pública.

Ney Ferraz Paiva

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