o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009


a cisterna contém: a fonte transborda

de tudo retiro água

pra fazer funcionar o poema

mesmo da estátua enferrujada

de william blake dentro de um livro

se nada posso tocar na colheita

transgrido: roubo desfruto rapto

sem que nada aprenda & nada ensine

apenas espero veneno da água parada




anti-receita

rara é o palavro

raso o armadilho

rala é o pálpebro

roto o maravilho




curriculum mortis

fiz-me ao mar amargo da palavra

a morte é um cálice

cheio de silêncio

contamina o que antes fora água –

ferrugem rara sobre a relva

soletra-me seu nome

entre as pedras

o vento irado: espada afiada de dois gumes

ousa badalar os sinos que agonizam

tira dos gonzos a própria terra

consolador das crianças mortas

palavras afogadas no ódio





signé ana c.

toquei minha mão justo na mão de ana
portas nos separam ou nos mudam de lugar?
agora me pergunto se a presença do corpo é mesmo dispensável
não saber estilhaça meus sentidos
giro em torno do vazio feito um cão atrás da cauda
(quando criança costumava encher o rosto de creme
sempre foi de longe a mais vaidosa
musa transviva do amanhecer
depois namoro na praia & na montanha
a dor de pegar o avião & ir embora
a mãe amélia disfarçada em luiza
luz é símbolo da beleza absoluta)
vivo sem saber como vai ser o dia
uma escritora está sempre atrelada a seu personagem
ensaio palavras em francês pra ela ouvir
recados luminosos espalhados pelos quatro cantos do mundo

seleta do livro "não era suicídio sobre a relva"
ney ferraz paiva (2000)

2 comentários:

  1. Que maravilha, Ney! Só conhecia algumas coisas suas que li no facebook. Gostei muito destes poemas, parabéns!

    Beijo.

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  2. grato, lara. também fui ao seu blog e gostei muito. bjs

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