o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

sábado, 21 de fevereiro de 2009

A MORTE É INDESTRUTÍVEL


Max Martins. Interferência Ney Ferraz Paiva.

Acabava-se de morrer minha morte
lène Cixous


Há dez dias morria em Belém do Pará o poeta Max Martins.
Deixou uma poesia maior do que nós e ele próprio talvez percebesse. Exigia-se muito, o máximo, mas jamais a perfeição. Como ele mesmo disse: “Eu sujei a perfeição”.


Rivalizava-se com a palavra, aspirava uma obra em que os pontos de tensão se multiplicavam e distendiam de um livro a outro. O zen era uma fraude. O zen era uma farsa. Sua escrita se movimentava num espaço de violência ativa, de combate e ruína. Max vivia e pensava a linguagem. Relação incomensurável com a poesia permanentemente renovada pela experimentação que nos deu a alegria de dois livros geniais, incomuns, de quem jamais cedeu e só assim pôde realizar seus grandes feitos - O risco subscrito (1980) e Caminho de Marahu (1983). Livros que são mais poesia do que pode conter a amesquinhada biblioteca de toda literatura paraense.

Max não era o poeta de um lugar. O lugar permanece inconfessável. Max escreve num trânsito de memória, delírio, esquecimento.

O que lhe nega a língua, o mutismo das representações e da intimidade. O silêncio de quem nada tem a confessar, nem seu léxico a revelar. Seu texto é sempre Outro. Nômade. Sem rosto nem pertences. Há, claro, ramificações e revezamentos diversos e intensos. Dos mais antigos: Walt Whitman, Carlos Drummond, Murilo MendesPaulo Plínio Abreu, Mário Faustino, Robert Stock, aos mais recentes: Ingeborg Bachmann, Thomas Bernhard, Edmond Jabès.

Max apartava-se do testemunho documental. Não queria ser o poeta das pequenas histórias ou das grandes tiradas do momento na sala de festas da oficialidade local. Nem procurou escapar pela saída de emergência dos contos nem das crônicas nem do jornalismo. Foi poeta apenas. Poeta da palavra com as consequências e implicações tremendas.

Fez a sua escolha de poeta e manteve até o fim os caminhos de sua aposta. Uma aposta pela grande poesia. E lançou sorte à sua morte. E viveu sem concessão o seu delírio.


Ney Ferraz Paiva 20.02.2009

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